Siroco

“Siroco”, título da obra que nos é apresentada por Carlos No (Lisboa 1967), carateriza-se por ser uma cancela constituída por uma base e uma trave com cores e dimensões idênticas a muitas outras que habitualmente encontramos no espaço público como forma de assinalar e delimitar um espaço e/ou um território, sejam eles públicos ou privados, mas em ambos os casos sempre como uma marca de identificação de um limite entre dois espaços que se pretendem distintos e/ou diferentes entre si.

No entanto, e ao contrário do que é habitual para dispositivos idênticos, a “cancela” que Carlos No nos apresenta encontra-se destituída de parte das suas habituais funcionalidades: a sua trave está fixa e levantada, anulando assim uma possível divisão entre dois territórios e permitindo deste modo uma livre, e permanente, circulação entre os mesmos.

À parte destas duas caraterísticas encontramos ainda outra que a destitui por completo da imagem pela qual estas cancelas são de imediato reconhecidas: a de que a presente trave encontra-se torcida, desenhando desta forma no ar um arco, num movimento ondulatório de Sul para Norte, como se tivesse sido dobrada pelo vento, um “vento quente, (...) malévolo, de tempestade” como é referido na famosa obra literária de Thomas Mann, “A Morte em Veneza”.

A sua colocação no Pontão também não é aleatória pois este é, normalmente, o primeiro local de receção em terra daqueles que dela se aproximam por mar, sendo, portanto, o primeiro ponto de interceção entre ambos os espaços, podendo ser o primeiro ponto de acolhimento e segurança ou o seu contrário.

Criada especificamente para este evento em Cascais, na sequência de um convite direto feito ao artista por parte da Fundação D. Luís I e da curadora desta exposição, Luísa Soares de Oliveira, e enquadrada num tema previamente proposto para um espaço expositivo específico, “Siroco” surge igualmente na sequência de uma linha de pesquisas que Carlos No vem efectuando há vários anos, através das quais o artista reflete sobre situações do mundo atual procurando explorar conceitos como os de Território, Fronteira, Margem e Exclusão.

 

Fotografias: Valter Vinagre ©